Entidades manifestam
preocupação com saída do Brasil do Pacto Global para a Migração
Por MigraMundo Equipe -
10 de janeiro de 201
Em carta, instituições citam que a medida vai
“trazer retrocessos na evolução de direitos conquistados arduamente” nos
últimos anos
Por Rodrigo Veronezi, Em São Paulo (SP)
Além dos efeitos sobre os brasileiros
que vivem no exterior, a saída do Brasil do Pacto Global para as Migração, também preocupa entidades da sociedade civil
que atuam junto a migrantes no Brasil.
Parte dessas instituições elaboraram uma
carta aberta na qual qualificam a decisão como um grande retrocesso em relação
ao histórico humanitário e diplomático recente do Brasil.
“A decisão de se retirar do Pacto Global
de Migração não coaduna com o histórico de atuação do Brasil em âmbito
internacional. Signatário dos principais acordos e tratados internacionais
relacionados à temática migratória e de refúgio, o país também evoluiu nos
últimos anos ao garantir direitos fundamentais aos migrantes por meio da Nova
Lei de Migração (Lei nº. 13.445/2017). Ressaltamos que o documento não tem
caráter vinculante, mas traz, tão somente, princípios para regular a migração
global”, diz trecho da carta.
O documento aponta ainda que, a saída do
pacto vai trazer “retrocessos na evolução dos direitos tão arduamente
conquistados, impactando na vida dos milhares de brasileiros que hoje se
encontram fora do país, e também dos imigrantes no geral que encontraram no
Brasil, a sua nova casa”.
Outra instituição que manifestou
preocupação com a saída do Brasil do acordo para as migrações foi a Missão Paz,
referência em acolhimento e orientação a imigrantes em São Paulo.
“Vale a pena ressaltar que o Pacto não
suspendia a soberania de cada país, ao contrário, ele deixava espaço para que
cada país adotasse sua política migratória”, disse, em nota.
Com a saída do acordo, o Brasil se junta
a um grupo de países que vem ganhando notoriedade no cenário internacional pela
retórica e práticas cada vez mais duras em relação às migrações, como Estados
Unidos, Hungria, Israel, Itália e Polônia.
Para o governo brasileiro, o acordo
costurado pela ONU é uma violação à soberania nacional. O agora presidente
também é crítico conhecido da Lei de Migração e já se referiu aos refugiados
como “a escória do mundo”, durante entrevista em 2015.
Costurado ao longo de quase dois anos
pelas Nações Unidas, o Pacto Global para a Migração reúne 23 recomendações a
serem seguidas pela comunidade internacional para uma migração “ordenada,
regular e segura”, procurando assim reduzir as altas cifras de mortes em
travessias.
Leia abaixo o texto completo da carta
Carta Aberta sobre a Declaração de Saída
do Brasil do Pacto Global de Migração da ONU
Nós, organizações da sociedade civil,
acadêmicos, coletivos atuantes na questão migratória em diversas regiões do
País, manifestamos profunda preocupação com relação à declaração da saída do
Brasil do Pacto Global de Migração da ONU.
O conteúdo do acordo visa trazer
propostas para garantir migrações ordenadas, controladas e regulares,
propiciando um ambiente sustentável para que a migração internacional e seus
desafios sejam tratados de forma a fortalecer os direitos dos migrantes nas
diversas esferas.
Entendemos que aderir ao Pacto Global de
Migração representa reforçar os princípios humanitários migratórios, por meio
do intercâmbio de informações e experiências entre os países, a governança das
migrações, bem como a integração dos migrantes, garantindo os seus direitos.
Por se tratar de um acordo cujo objetivo
é a cooperação, consideramos que participar desse ambiente internacional,
significa também, reconhecer toda a luta que vem sendo enfrentada para a
consolidação de políticas, estruturas e direitos no âmbito nacional, regional e
local.
A decisão de se retirar do Pacto Global
de Migração não coaduna com o histórico de atuação do Brasil em âmbito
internacional. Signatário dos principais acordos e tratados internacionais
relacionados à temática migratória e de refúgio, o país também evoluiu nos
últimos anos ao garantir direitos fundamentais aos migrantes por meio da Nova
Lei de Migração (Lei nº. 13.445/2017). Ressaltamos que o documento não tem caráter
vinculante, mas traz, tão somente, princípios para regular a migração global.
A nossa intenção é que essa evolução
seja intensificada, de forma a reconhecer que a migração é fenômeno mundial que
tende a aumentar a cada ano, promovendo ações que fortalecem o direito de
migrar, já amplamente reconhecido internacionalmente.
A sociedade civil, em suas diversas
formações, tem papel essencial na história brasileira para a construção e
consolidação dos direitos migratórios e, unida, continua nessa trajetória,
buscando sempre garantir que princípios fundamentais a qualquer indivíduo,
inclusive o migrante, sejam fortalecidos e respeitados.
Nesse cenário, acreditamos que a decisão
de se retirar do Pacto Global de Migração e qualquer outra medida tomada, no
sentido de fechar fronteiras e encerrar o diálogo regional e internacional,
trarão retrocessos na evolução dos direitos tão arduamente conquistados,
impactando na vida dos milhares de brasileiros que hoje se encontram fora do
país, e também dos imigrantes no geral que encontraram no Brasil, a sua nova
casa.
Entidades que assinam o documento:
BibliASPA – Biblioteca/Centro de
Pesquisa América do Sul, Países Árabes e África.
PAL – Presença da América Latina
CAMI – Centro de Apoio e Pastoral do
Imigrante
ICUJAL – Instituto de Culturas e Justiça
da América Latina e do Caribe
Núcleo de Estudos de Direitos Humanos da
Ulbra – Manaus/Universidade Luterana
África do Coração
Munir Cury –
Procurador de Justiça aposentado do Ministério Público do Estado de São Paulo
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