Arte e ativismo: artistas e suas obras que denunciam a política de
imigração dos EUA
27.06.2018 / CULTURA / POR FFW
Site UOL
MURO, BOSCO SODI /
REPRODUÇÃO
O governo
americano chocou o mundo com sua política tolerância zero em relação aos
imigrantes, separando pais de seus filhos na fronteira (há 51 crianças
brasileiras separadas dos pais depois de terem cruzado a fronteira entre o
México e os Estados Unidos). A política foi obviamente criticada
por outros governos e pela ONU, que comparou a prática a tortura, e os EUA
voltaram atrás.
Além de
organizações e ativistas, se tem alguém que pode fazer barulho e jogar luz na
situação dos imigrantes é a classe artística. De estrelas como Ai Wei Wei a
jovens artistas e ilustradores independentes, eles têm criado iniciativas para,
cada um à sua maneira, colaborar com a causa.
THE DREAMER, DE ALLISON FILLICE / REPRODUÇÃO
Três
artistas americanos criaram uma série de prints cuja renda total vai direto
para a RAICES Family
Reunification Bond Fund, iniciativa que trabalha para conectar as crianças aos seus pais. Clay Hickson, Liana Jegers e Allison Filice estão vendendo as
obras através de seus sites por valores que vão de US$10 a US$35. Clay e
Liana juntos criaram a revista mensal The Smudge com Liana em 2017, já em
reação à vitória de Trump. É bem legal, vale checar.
O mais
recente trabalho de Ai Wei Wei destaca a crise global envolvendo
refugiados. The Law of the Journey, apresentada na Bienal
de Sidney há menos de três meses, mostra um bote salva vidas de 60 metros
com mais de 300 figuras amontoadas dentro. A obra, inteira preta, foi feita da
mesma borracha dos botes e é uma clara referência às duras jornadas de milhares
de refugiados. Em 2016, ele lançou três obras/instalações também inspirado pelo
tema. Em uma delas, ele embrulhou uma sala de concertos de Berlim com 14 mil
coletes salva vidas dos refugiados que conseguiram completar a viagem.
THE LAW OF THE JOURNEY, DE AI WEI WEI / REPRODUÇÃO
O artista
mexicano baseado no Brooklyn Bosco Sodi, construiu uma instalação
no Washington Square Park que imita um muro. A obra foi feita com material
mexicano e por mãos mexicanas – ao final, ela foi transportada para Nova York
fazendo a mesma rota que um imigrante ilegal pode fazer. Muitos dos que
ajudaram a dar vida à obra já viveram ilegalmente nos EUA em algum momento de
suas vidas. A ideia é que a instalação durasse apenas um dia: as pessoas que
passavam pelo local eram encorajadas a desmanchar o muro, levando tijolos para
casa.
Outra
mexicana baseada em Nova York, Aliza Nisenbaum tem se dedicado a pintar
retratos de imigrantes não documentados vindos do México e outros países da
America Central – ela os conheceu quando atuava como voluntária ensinando
inglês em um centro comunitário.
No
Olvidado,
deAndrea Bower, funciona como uma espécie de monumento para as pessoas que
morreram tentando cruzar a fronteira México – EUA. A obra foi exposta na Documenta 14 e é, segundo o artista, um
memorial ainda incompleto. “Muitas das pessoas que morreram tentando cruzar a
fronteira ao longo dos anos nunca serão identificadas”. A lista dos imigrantes
que consta na obra foi fornecida pela ONG Border Angels.
NO OLVIDADO, DE ANDREA
BOWERS / REPRODUÇÃO
O artista
mexicano Felipe Baeza foi do México para os EUA ainda criança, assim como
muitas das crianças atualmente em centros de detenção. “Acredito que a arte tem
um papel crucial em transformar, redefinir e repensar o fenômeno global da
imigração”, diz o artista à i-D.
No final
de 2015, Banksy revelou uma pintura de Steve Jobs com um saco de lixo numa
mão e um computador original da Apple na outra, que gerou muita discussão sobre
o fato de Jobs ser filho de um imigrante sírio que foi para os EUA após a
Segunda Guerra. A obra chamada The Jungle tinha a intenção
inicial de jogar luz no maus tratos sofridos pelas pessoas no campo de
refugiados de Calais, na França. “Somos levados a acreditar que a migração é um
dreno para os recursos dos países, mas Steve Jobs era filho de um imigrante
sírio. A Apple é uma das empresas mais lucrativas do mundo – paga mais de US$ 7
bilhões de impostos por ano – e só existe porque permitiu um jovem homem de
Homs entrar”, disse o artista em um raro comunicado. E se esse imigrante
não tivesse conseguido entrar nos EUA?
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