NEGROS TRABALHO E SOCIEDADE EM JOINVILLE
(Síntese do último capítulo do livro: História do Trabalho em Joinville. De
autoria do historiador Dilney Cunha. Ediões: Todaletra.
Em
1804 o governo imperial brasileiro concedeu a Antônio de Oliveira Cercal,
morador da Vila de São Francisco um lote no lugar denominado Morro da Caxoeira.
Iriam morar no local: sua mulher seus oito filhos e dois escravos.
Domingos
Correa, com sua família e seus 12 escravos no Bucarein. No Itaum havia o Sítio
do Coronel Vieira, no Boa Vista Agostinho Budal. No Iririú, Morro do Amaral,
Margens do Rio Cubatão e Lagoa do Saguaçú, utilizavam mão-de-obra escrava,
agrícola e doméstica com cerca de 18 ou até 22 escravos. Nesses locais era
produzido cana, mandioca, aguardente, melado e farinha.
Registros
eclesiásticos católicos (1857-1889) apontam: 74 óbitos, 123 batizados e 30
casamentos de afro-brasileiros. Na narrativa de alguns imigrantes é possível
perceber a existência dos negros em meio a colonização européia: “Havia pessoas
de todas as cores” 1851. O advogado alemão Ottokar Dorffel, imigrado em 1854
afirmava: “Rostos negros que espiam de muitas casas habitadas”. “O negro Diego
era cozinheiro, carpinteiro, marceneiro e vigia”.
Haviam
também canoeiros que eram negros libertos ou mesmo os chamados escravos de
ganho. Até os mais pobres livres procuravam ter escravos. Os imigrantes eram
proibidos de ter escravos, porém... Felizarda, africana, falecida em 1880 era
escrava de Gustavo Seiler, feitor do engenho de mate de Eduard Trinks, localizado
na Estrada da Serra atual Dona Francisca. Trinks veio da Alemanha em 1854 e era
primo de Ottokar Doerffel, tornou-se um dos mais ricos comerciantes locais.
Pretos
de nação: Vicente, morto em 1875, aos 85 anos, foi escravo de João Gomes de
Oliveira, tinha um engenho de mate na Estrada da Serra, Manuel, falecido em
1878, 80 anos, ex-escravo de Anna Rosa d Assumpção, moradora na mesma estrada,
João Africano, falecido em 1901, aos 80 anos e de Joaquina Cabinda, que em 1891
e tinha 100 anos.
Damázio
Rodrigues, falecido em 1870 aos 50 anos e tantos, Luiza Claudina, em 1863, veio
para Joinville com seu dono Ignácio Lázaro Bastos, telegrafista, jornalista,
teatrólogo, professor e uma das mais importantes lideranças republicanas
locais.
Galdino,
falecido em 1879, aos 60 anos, mulato liberto de profissão jornaleiro, no
engenho de Antonio Sinke, José Celestino nascido em 1853, Polydoro negro
crioulo, falecido em 1880, aos 28 anos, o casal Gil Conrado Oliveira e
Innocencia Maria Joaquina, mulata, morta em 1881 aos 25 anos, todos escravos do
Tenente-Coronel José Celestino d Oliveira, destacado político e empresário do
mate em Joinville.
Anna,
falecida em 1872 com 1 ano e 6 meses, escrava de José André da Rocha Coutinho
Jr, morador do Cubatão, Francisca, morta em 1873, aos nove meses, filha de
Anna, escrava de Francisco Fernandes Dias morador do Iririu. Antes de 1888 95%
dos escravos no Brasil já estavam libertos.
Ser
negro livre era sempre sinônimo de dependência. As elites não se preocupavam
com a integração do negro, muitos permaneceram nas fazendas como agregados ou
contratados.
João
Antonio Correa Maia e seus ex escravos Gil e Dionizia trabalharam para pagar a
sua alforria por cinco anos, o acordo foi firmado em documento, detalhe, Gil e
Dionizia não sabiam ler.
O
cotidiano dos afro-descendentes de Joinville foi marcado pelo preconceito e
pela discriminação. Trazendo ainda o estigma da escravidão, não tiveram a
chance de competir em pé de igualdade com os colonos germânicos, que se
tornaram mão-de-obra preferencial. Enquanto os primeiros eram vistos como
atrasados, preguiçosos, os últimos eram representados como trabalhadores,
disciplinados, promotores da civilização e do progresso. Dificultou-se assim a
inserção dos negros na sociedade local.
Na
segunda metade do século XIX e início do século XX estavam no auge das teorias
racistas que classificavam os negros como inferiores e os europeus,
especialmente os povos germânicos, como uma raça superior.
O
pastor evangélico Wilhelm Lange, líder da comunidade de Bruderthal (1886-1896),
no interior de Joinville, procurou evitar a todo custo que um nobre, Conde von
Hasslingen se casasse com uma negra da região, chamada de “Negra Berta”.
Reconstruir
a participação dos negros escravos na sociedade joinvilense e contribuir para
restituir-lhes o direito à memória e à identidade.
Exelente trabalho professora!
ResponderExcluirAgradeço aos cosmos por ter pessoas que ensinam gratuitamente na internet como a senhora. Tirou minhas dúvidas quanto a esse tema. Espero que esse trabalho continue por muito tempo. Obrigada pelo conteúdo ♥️
Bianca Araújo
Excluir2°3
Jorge Lacerda